Olhai, homens, olhai! Olhai o mundo, o que nos rodeia! Tanta gente! Tantas mãos! Tantos olhares. Olhai!
Somos tão pequenos, tão insignificantes no meio desta grandeza!
Parai para ver. Para ver onde habitais, para ver as árvores e ver os rios, para cheirar a terra molhada pela chuva, para sentir o sol na face e o mar nos pés.
Homens, aprendi a ver o mundo no dia em que o perdi. Aprendi a amá-lo no meio do sofrimento.
Agora, sou a que se entrega ao vento e sente a chuva com o fascínio de estar viva, consciente da insignificância da minha existência na grandeza do que me rodeia.
E quando eu morrer, levarei nos olhos as asas das borboletas. Levarei comigo o perfume das camélias e dos eucaliptos.
Quando eu morrer, terei um sorriso nos lábios: o que ofereci aos sofredores, aos mais carentes, aos desconhecidos, às crianças com quem brinquei.
E levarei nas mãos a areia fina. E nos cabelos a maresia.
E levarei comigo a infinitude das gentes de todas as raças… tantas mãos… Pudesse eu tocar-lhes antes de morrer e apertá-las contra o meu peito. Sentir-lhes a pulsação, batida a batida.
Olhai, homens, olhai! O mundo é nosso só enquanto estamos vivos.
Partilhá-lo é uma bênção. Estar aqui uma glória.
No dia em que partirmos, haverá amanhecer. E outros, nesse dia, nascerão.
Lúcia Vaz Pedro