A saudade é um sentimento tão humano, mas, ao mesmo tempo, tão cruel.
Há saudades que nos esganam como cordas de marinheiro. São duras, rasgam-nos a pele e deixam cicatrizes feias antes de nos matar a alma.
Outras são fios de seda, enrolam-se à volta do pescoço e asfixia-nos devagarinho, quase sem darmos conta. E em cada dia que nasce morremos um pouco, e, quando damos conta, deixamos de viver, sobrevivemos, ancorados a um fio de esperança colado à saudade que nos segura como um enforcado.
Se pudéssemos matar a saudade, seria tudo mais simples: dávamos-lhe um tiro ou batíamos-lhe com um pau na cabeça. Também a poderíamos tentar esganar ou envenenar.
Mas há saudades que ficam até ao fim dos nossos dias: são eternas. E teimosas. Persistem em assaltar-nos a memória a horas inconvenientes. Sistematicamente.
Há saudades que estão coladas à nossa pele: habitam na nossa casa; vão connosco para o trabalho e até se dão ao luxo de irem connosco tomar café.
Quando se tem uma saudade deste tipo, é preferível aprender a conviver com ela. Aceitá-la como parte de um passado que nos pertenceu, mas já não pertence. Por outro lado, há sempre a esperança de que morra de fome, se não a alimentarmos. Ou então, se a desprezarmos, ocupando as horas com outras coisas, fazendo de conta que não a sentimos, talvez assim se sinta ignorada e amue e se vá embora. Caso fique, que seja silenciosa, porque há momentos em que precisamos de dormir sem que ela faça barulho.
Lúcia Vaz Pedro