Luís Carlos Almeida da Cunha: provavelmente este nome não lhe diz nada, mas se lhe apresentarmos a alcunha que ganhou bem novo, então, aí sim, já vai seguramente reconhecê-lo.
“Quando era bebé, a minha irmã tomava conta de mim e tinha uma maneira muito mimada de me chamar. Fiquei Nani para sempre”, contou em tempos o futebolista internacional português de renome, que celebrou no passado dia 17 de novembro o seu 30.º aniversário.
Festejou a data em grande estilo, com uma festa no “Lust in Rio”, em Lisboa, algo impensável para o menino de outrora que fez-se homem à custa de muito sacrifício e um dom natural para o pontapé na bola.
Nascido na Cidade da Praia, em Cabo Verde, teve uma infância recheada de dificuldades. Inserido numa família numerosa – tem oito (!) irmãos – e com reduzido poder económico, emigrou com ela para Portugal ainda em criança e fixou-se na cidade da Amadora, local onde cresceu e se tornou futebolista.
Em 1996 conseguiu a dupla nacionalidade (cabo-verdiana e portuguesa) e nesse mesmo ano entrou para as escolas do Real Massamá. Começava aí uma caminhada de grande sucesso que ainda decorre, agora ao serviço do Valencia, mas já com um currículo bem preenchido.
“Foi uma infância complicada, por isso, quando olho para trás, dou valor a tudo o que tenho. Era tudo tão difícil e agora é tudo tão fácil. Penso muito nisso, em todas as privações e os sacrifícios que fiz para chegar aqui. Ia a pé para o treino (da Amadora a Massamá, para trabalhar no Real), viajava de comboio sem bilhete porque não tinha dinheiro para o pagar… Tinha de andar a fugir ou a tentar enganar o revisor”, confidenciou a dada altura numa das inúmeras entrevista que já concedeu.
O seu talento para o futebol logo começou a despertar a cobiça dos principais clubes portugueses, sobretudo os da capital, e em 2002 acabou por ingressar no Sporting. Em 2005 estreou-se na equipa principal leonina e, dois anos volvidos, transferia-se para o poderoso Manchester United por… 25,5 milhões de euros.
Chegado a Inglaterra, instalou-se na casa daquele que já era o “rei do clube”, o amigo de longa data, Cristiano Ronaldo. Viveu lá com o agora capitão da Seleção Nacional e também com o brasileiro Anderson, que saiu, nesse mesmo ano de 2007, do FC Porto para o Manchester United.
“Foi fantástico. Uma piscina, um campo de ténis… Andávamos sempre em competições uns contra os outros, a ver quem ganhava mais”, reconheceu alguns anos depois, Luís Nani.
Nessa altura, começou a ver o mundo por uma perspetiva bem diferente daquela que tinha quando começou a dar os primeiros pontapés na bola, nas ruas da Amadora. Todavia, não se deixou deslumbrar e a prova disso é que, logo na primeira época ao serviço dos “red devils”, conquistou aquele que era até há bem pouco tempo o título mais valioso da sua carreira, a Liga dos Campeões. E fê-lo sob o comando técnico do mítico Sir Alex Ferguson, uma figura de relevo na sua carreira:
“Teve uma importância enorme. Apesar de ter passado um ano ou outro em que joguei menos, continua a ser a pessoa que mais influência teve na minha carreira, por tudo aquilo que aprendi com ele. Estou-lhe muito grato. Qualquer futebolista sonha jogar numa equipa com um treinador como o Ferguson.”
Nani prosseguiu no Manchester United até 2014, onde ainda conquistou o Campeonato do Mundo de Clubes (2008). Depois, foi emprestado ao Sporting (2014/15), no ano seguinte rumou ao Fenerbahçe e, este ano, representa o Valencia.
Foi, contudo, entre o clube turco e o espanhol que ganhou, com um papel preponderante, o tal troféu mais importante do seu currículo, o Campeonato Europeu de Futebol, ao serviço da Seleção Nacional.
Como consequência disso, tal como o restante grupo de trabalho, foi condecorado pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, com o grau de Comendador da Ordem do Mérito.
Foi assim, numa vida de constantes provações, que conquistou o seu lugar ao sol.
Fiel às suas raízes, Nani sempre teve na família o seu grande suporte e nunca deixou de a ajudar quando atingiu o estrelato. Apesar do futebol dominar grande parte do seu tempo, ampliou o clã com o pequeno Lucas, que está prestes a celebrar o terceiro aniversário e é fruto da relação de longa data que mantém com Daniela Martins.
Fora das quatro linhas de jogo é conhecida a sua paixão pela capoeira e é por isso que costuma festejar os seus golos com saltos mortais. Além disso, também se deixa encantar pela música, seja pela vertente da dança ou pela parte instrumental, onde domina o piano na qualidade de autodidata.
Em suma, Nani fez-se um homem multifacetado e conquistou por mérito próprio um lugar ao sol.
Fotos: Move Noticias / instagram