Na minha mente como quatro paredes decoradas tenho o teu sorriso. Mergulho até ao fundo do teu mar, onde me transformo em sereia, decoro-me com búzios, conchas e algas e rodopio na areia branca e fofa, brincando com as mantas e os golfinhos. Sobre o teu corpo vagueio, planando até ao fim dos dias, ousando transpor o horizonte e, em bicos de pés, quase num sussurro, vou olhando as quatro paredes e vendo esse mar imenso, esse generoso mar. Abençoado! Abro os braços para ti como se voasse entre as nuvens e subo ao cume da montanha mais alta. Depois deslizo, em vertigem, pelo desfiladeiro, numa alucinação que me faz sentir livre, livre! Plano sobre as planícies até voltar de novo a ti.
Na minha mente, uma pradaria verde de esperança, ávida do teu regresso. Tenho a força da coragem para desbravar novos mundos debaixo de torrentes de água, bateladas de ondas gigantes. Sei os teus suspiros e as tuas mágoas desprendidas dos perfumes da terra.
Fecho, de novo, os olhos, inspiro. Deitada na relva acabada de cortar, sinto o palpitar agitado da terra. Abraço-a carinhosamente e viajo no azul intenso de céu, sem norte, rumo ao infinito. Sinto-me leve, sem preocupações, sem compromissos, sem amarguras. Baloiço no trapézio da vida, atiro o meu coração de flor em flor e beijo com um doce toque a maresia que me leva para lá do horizonte azul onde ouço o verde sabor da frescura que me invade. O vento inebria a minha vontade de voar, ganho vertigens, deixo de respirar, no entanto a vida pulsa e impele-me a planar, sacudo as minhas penas, e deixo-me deslizar, as asas vibram de emoção. E voo, voo, voo sem parar. O vento embala-me, sacode-me a mágoa que ficou para trás e eu sorrio. Já sei voar! Liberdade, liberdade! Sou feliz! Aprendi a voar! Perpasso com o olhar as ruínas ao sol expostas. Fixo a atenção no cinzento das pedras, que se desprende lentamente da superfície rochosa. É vê-lo, já mesclado de azul, vaguear na alvura do céu sem fim. Fixo esse horizonte e divirto-me a projetar nele imagens que me deliciam e me dão sensações de bem-estar… Construo- as a partir das nuvens, que vou desenhando no céu sorridente de cor dourada alaranjada.
Subitamente, ergo os olhos para o azul índigo do firmamento, onde brilham estrelas aos milhares. O vento sopra morno e suavemente, trazendo -me a melodia celta pintalgada do marulho do mar. De pés descalços, sobre a relva, de mãos erguidas para este céu, de início de noite, danço a dança da gratidão. Sou tão pequena… Emoções?… O meu instante feliz entre as quatro paredes da minha mente, onde estás tu e o teu sorriso.
Texto a várias mãos – exercício de escrita criativa, orientado e coordenado por Lúcia Vaz Pedro
(Ângela Carvalho, António Melo, Fernanda Casaca, Isabel Graça, João Pires, Maria José Moura Castro, Marlene Chaves, Teresa Freitas Castro, Teresa Moura Pereira, Teresa Neves, Teresa Vivalma)