Atualidade

Salvador Sobral: de jovem dos Ídolos ao fenómeno do Festival da Canção

Apresentou-se ao público português em 2009 como concorrente do programa de talentos ‘Ídolos’, exibido na SIC, e desde então tem apostado na sua carreira. No ano passado lançou o primeiro álbum ‘Excuse Me’ e tem andado a divulgá-lo, mas bastou uma ‘simples’ aparição no Festival da Canção para se tornar numa estrela mediática.

Salvador Sobral já existia antes do concurso da RTP, é um facto. Para muitos que o viram na primeira semifinal – onde se tornou no intérprete mais falado no mundo virtual, enquanto somava ainda mais fãs – foi a confirmação de um talento.

Tudo começou no ‘talent show’ do canal de Carnaxide. Tinha 19 anos e foi o quinto finalista a ser eliminado do programa, tendo cantado versões de temas de Rui Veloso, Maroon 5 e Stevie Wonder, entre outros.

A irmã Luísa concorreu na primeira edição do formato, em 2003, e arrecadou o terceiro lugar.

Na primeira vez que apareceu no ecrã, Salvador cantou ‘For Once in My Life’ de Stevie Wonder e depois ‘I Got a Woman’ de Ray Charles. Laurent Filipe, um dos júris do programa, pediu-lhe que cantasse ‘Georgia On My Mind’ e o jovem acedeu. Depois foi o jurado Boucheire Mendes que lhe pediu que cantasse em português e o que saiu foi ‘Cavaleiro Andante’ de Rui Veloso.

“Aprendi a lidar com o público e com os nervos de atuar porque havia muita gente a ver o programa”, disse na altura, admitindo que ‘Ídolos’ era um programa de “televisão e não de música”.

Apareceu sempre descontraído, ainda que se esquecesse algumas vezes das letras, mas tinha problemas de stress. Quando saiu do programa, deixou de cantar. Só o voltou a fazer dois anos depois, em 2011, enquanto fazia Erasmus em Maiorca. Juntou-se a um guitarrista de blues num bar e começaram a tocar repertório que incluía Ray Charles e Stevie Wonder.

“Começámos a trabalhar e a ganhar dinheiro. Não me parecia normal ganhar dinheiro a cantar que é uma coisa que sempre me saiu natural. Deixei de ir às aulas e disse ‘é isto que eu quero fazer, mas não é só aqui, nos bares e nos hotéis, tenho de fazer alguma coisa mais, tenho de escrever canções”, explicou Salvador numa entrevista.

Saiu de Maiorca para Barcelona, onde entrou na escola Taller de Músics. Teve treino auditivo e de harmonia. Dispensou as aulas de treino de voz, porque não precisava, pois sempre lhe disseram que respirava bem nas músicas. Nas aulas aprendeu repertório, principalmente os standards de jazz, que tantas vezes interpretou enquanto cantava no ‘Hot Clube’, em Lisboa.

É admirador da lenda do cool jazz e foi a irmã quem o impediu de se tornar num Chet Baker português do século XXI.

No seu álbum de estreia, Salvador compôs todas as músicas, com o compositor venezuelano Leonardo Aldrey. O disco teve ajuda na produção do pianista português Júlio Resende.

Chegou ao Festival da Canção de 2017 através de Luísa. Esta foi convidada, assim como outros 15 compositores, diretamente pela RTP para escrever uma música e escolher o intérprete. ‘Amar Pelos Dois’ conquistou o júri e, no final, também o público. Salvador Sobral, atualmente com 27 anos, será agora o representante português na Eurovisão, em maio, na Ucrânia.

Na Europa há já quem o apelide de ‘Dark Horse’: termo aplicado no contexto das casas de apostas e que significa que quem apostar nele como vencedor da competição irá ganhar muito dinheiro.

De facto, Portugal pode muito bem ser a surpresa da Eurovisão deste ano. Ainda que a vitória pareça longe – afinal vai competir com outros 42 países -, pode estar bem lançado para passar à final. A última vez que Portugal ultrapassou as semifinais foi em 2010. Pode ser que a simplicidade da canção, a interpretação de Salvador e o fenómeno que este entretanto se tornou o ajudem em Kiev.