Ficou parada, durante algum tempo, pensativa.
Uma velha aproximou-se e disse-lhe:
– O que te estiver destinado a ti voltará.
Estava um dia de sol brilhante e o mar banhava-lhe os pés com doçura. Ela olhava-o pensativa, enquanto contornava entre os dedos o anel dourado.
Olhou à sua volta. Havia pouca gente na praia, apesar do bom tempo primaveril.
De repente, lançou o braço para trás e atirou com força o anel para o mar.
Ainda ficou parada durante algum tempo, na esperança de que o mar lho devolvesse, tal como a velha lhe tinha anunciado. Mas o mar embrulhara o anel na espuma borbulhante e levara-o na ondulação.
Com os olhos marejados de água, a rapariga afastou-se até à marginal. Procurou, em vão, a velha entre os que passeavam à beira-mar.
O sol dourado partia, mergulhando no mar. A ser verdade o que a velha lhe dissera, o anel não poderia voltar. Aquele amor fora um erro desde o início, por isso não lhe pertencia.
De repente viu um rapazinho a correr em direção a uma jovem. Era um casal de namorados, muito jovem. Eufórico, ele pegou-lhe na mão e colocou um anel no dedo da rapariga,
Sem hesitar, foi ter com eles para perceber se era o seu anel.
– Posso perguntar-te se encontraste esse anel no mar?
– Sim. Encontrei-o agora mesmo. É seu? – perguntou.
Ela hesitou, mas acabou por responder:
– Não. Não. Se o encontraram é vosso. Vocês são namorados?
– Sim. – respondeu ele. Mas, um dia, hei de casar com ela. É a mulher da minha vida.
A rapariga mais nova ficou vermelha. A outra abraçou-a, comovida. Tantas vezes quisera ouvir aquelas palavras. Por fim, disse-lhe:
– Esse anel é a marca do vosso amor puro, genuíno, O mar sabe aquilo que faz!
Abraçou-os e partiu com os pés descalços. Os olhos levavam a água do mar, mas nos lábios havia um sorriso, o do amor, aquele que, apesar de nunca ser nosso, sabemos que existe, mesmo que seja num filme.
Ao longe, a velha observava os jovens, enquanto esperava o cintilar da primeira estrela.
Lúcia Vaz Pedro