A história de Zohre Esmaeli, de 31 anos, foi mundialmente conhecida no ano passado. Tinha nove anos quando os Talibãs dominaram a sua província no Afeganistão. Orfã de mãe, que morreu quando tinha apenas dois anos, cresceu sob os cuidados do pai e da madrasta e debaixo de um regime violento e opressivo, especialmente para as mulheres. A família acabou por chegar à Alemanha, em 1999, onde já adolescente foi descoberta por uma agente de modelos.
Hoje, a ex-refugiada ‘destronou’ a top model alemã mais famosa do mundo (se não contarmos com Heidi Klum) e é agora a cara do país. Literalmente.
Zohre, que além de modelo é escritora e designer, protagoniza a campanha “Alemanha – País das Ideias”, criada pelo governo federal alemão e pela Federação da Indústria alemã em 2006 para promover a imagem do país no exterior.
“Aceitei a proposta sem pensar muito. É um orgulho emprestar o meu rosto para a campanha, depois da Claudia Schiffer. Além disso, assim posso agradecer à Alemanha, o país que me ofereceu a oportunidade de construir uma nova vida e no qual me sinto em casa”, afirmou.
Entre os critérios de escolha estão, além da beleza, a história de vida de Esmaeli. Segundo a presidente da iniciativa, Ute Weiland, a jovem personifica uma sociedade aberta à diversidade, à inovação e disposta a ajudar o próximo.
Atualmente a manequim tem nacionalidade alemã mas até conseguir isso sofreu bastante.
“Vivíamos em estado de medo e opressão, especialmente as mulheres. Éramos proibidas de praticar desporto, ir à escola ou trabalhar”, contou. “Passávamos o dia em casa, a limpar os tapetes e a lavar a roupa à mão. Se chegassem visitas, fazia chá, mas era proibida de ser vista ou escutada. Nunca me esquecerei do dia em que a minha amiga Jasmine contou uma piada que me fez gargalhar e meu pai chicoteou-me como punição.”
Na noite em que a sua família deixou Cabul – ela, o pai, a madrasta, o irmão Salim e a irmã Mina, acompanhada pelo marido e os bebés -, Zohre pensou que estivesse a embarcar numa grande aventura. Mas dois dias depois foi parar em Mashad, no Irão, onde morou numa sala com apenas uma cadeira, um fogão e quatro camas.
“É engraçado pensar como eu estava ansiosa pela viagem. O meu pai descreveu-a como uma grande aventura – viajaríamos de comboio, autocarro e carro por dez países até chegar à Alemanha, onde tínhamos um irmão e um primo à nossa espera”, lembrou, sendo que viu pai vender quase todos os pertences da família para pagar 4 mil libras por familiar aos contrabandistas de pessoas.
Na jornada, passaram de carro, e muitas vezes, à pé, pela Ucrânia e Hungria. “Lembro muito bem de uma noite em que os soldados russos invadiram o mosteiro [onde várias famílias estavam refugiadas] e mandou os homens saírem na neve. Revistaram todos à procura de dinheiro, enquanto as mulheres berravam. Por sorte, a minha madrasta havia escondido as notas dentro da costura das suas cuecas”.
Quando conseguiram chegar ao destino, viveram durante quase dois anos num abrigo em Kassel, no centro da Alemanha.
Quanto ao trabalho como modelo, a família não achou muita piada à ideia mas Zohre Esmaeli resistiu e já viveu em Paris, Londres e Nova Iorque à conta da carreira. Em 2014 foi nomeada embaixadora alemã contra a discriminação.
Veja o vídeo da campanha: