Os homens mais velhos tendem a ter filhos mais ‘nerds’, indica um estudo publicado no ‘Translational Psychiatry’.
Segundo a pesquisa, os meninos nascidos de pais com idade mais avançada possuem quocientes de inteligência (QIs) mais altos, são mais focados nos seus interesses e têm pouca preocupação em se adaptarem a círculos sociais.
“O nosso estudo sugere que podem existir alguns benefícios associados a ter um pai mais velho”, afirmou a psiquiatra Magdalena Janecka, pesquisadora do King’s College, no Reino Unido, e uma das autoras do trabalho.
“Há algum tempo que sabemos das consequências negativas da idade paterna avançada, mas agora mostramos que essas crianças podem também ter melhores perspetivas na educação e na carreira”, adiantou.
As consequências negativas são os riscos mais elevados de que doenças como autismo e esquizofrenia ocorram em crianças com pais mais velhos, segundo algumas pesquisas anteriores.
Para chegar à conclusão apresentada no estudo, Magdalena e sua equipa criaram uma “escala nerd” (ou geek index, em inglês) baseada em dados comportamentais e cognitivos de quase 8 mil gémeos britânicos de 12 anos.
Os jovens preencheram uma série de testes online que mediam características que normalmente são associadas ao comportamento nerd, como QI, capacidade de focar num único tema e distanciamento social.
Os pais também foram questionados se os filhos se preocupavam com a opinião dos seus colegas e se eles tinham qualquer interesse que ocupavam a maior parte do seu tempo.
As maiores pontuações na escala nerd vieram, em geral, de meninos com pais mais velhos (com idades entre 35 e 40 anos ou com mais de 50 anos), em comparação a pais com idade igual ou menor que 25 anos.
Além disso, acompanhando as crianças durante algum tempo, a equipa percebeu que as crianças mais ‘nerds’ continuavam a sair-se melhor do que as demais em exames escolares mesmo depois da medição da escala, especialmente em disciplinas ligadas a ciência, engenharia, tecnologia e matemática.
Embora o estudo não tenha investigado o papel de fatores externos, os pesquisadores levantam algumas hipóteses para o resultado encontrado.
Uma delas é que pais mais velhos tendem a ter carreiras mais estáveis e um status socioeconómico mais alto que os pais jovens. Isso significa que as crianças tendem a crescer em ambientes que proporcionam mais estímulos e acesso a uma melhor educação.
De acordo com os pesquisadores, a idade da mãe não teve influência nos resultados, que foram verificados apenas nos filhos do sexo masculino.
Segundo Magdalena, os resultados também ajudam a compreender as ligações entre maior idade paterna, autismo e características “tipicamente nerds”. Embora os pesquisadores não possam medi-los diretamente, eles acreditam que alguns “genes nerds” também estariam presentes no DNA de pessoas com autismo, e que esses elementos genéticos poderiam ser mais propensos a se expressar em pais mais velhos.
“Quando a criança nasce apenas com alguns desses genes, eles podem ser mais propensos a ter sucesso na escola. No entanto, com uma ‘dose’ mais elevada desses genes, e quando há outros fatores de risco contribuintes, eles podem acabar com uma maior predisposição para o autismo”, explicou a psiquiatra. “Isto é apoiado por pesquisas recentes que mostram que os genes do autismo também estão ligados ao maior QI”.