O nosso cérebro é treinado para ver padrões e explicar o mundo à nossa volta. Como um órgão preditivo, o cérebro está sempre ocupado com essa busca constante, tanto para explicar as coisas como para ter sucesso na sociedade.
Esta capacidade do cérebro ajuda os seres humanos a ver sentido no mundo. Por exemplo, todos nós sabemos que se virmos alguma coisa a vermelho, isso significa que devemos estar atentos ao perigo.
Mas segundo um novo estudo, publicado no ‘European Journal of Social Psychology’, por vezes as pessoas sentem o perigo mesmo quando não há padrões que nos permitam reconhecê-lo – e assim os nossos cérebros criam os seus próprios padrões.
Este fenómeno, chamado perceção de padrões ilusórios, é o que alimenta as pessoas que acreditam em teorias da conspiração. A perceção do padrão ilusório – o ato de procurar padrões que não existem – já foi anteriormente associada à crença em teorias da conspiração, mas essa suposição não tinha sido até agora apoiada em provas empíricas.
Os cientistas britânicos e holandeses responsáveis pelo estudo agora publicado são os primeiros a mostrar que esta explicação está, de facto, correcta, tendo chegado a esta conclusão depois de realizar cinco estudos, com 264 americanos, que se concentraram na relação entre crenças irracionais e percepção de padrões ilusórios.
Estudos iniciais revelaram que a compulsão de encontrar padrões numa situação observável estava correlacionada com crenças irracionais. As pessoas que viram padrões em lançamentos de moedas aleatórias e pinturas caóticas e abstractas eram mais propensas a acreditar em teorias conspiratórias e sobrenaturais.
O estudo mostrou como as pessoas podem ser também suscetíveis a influências externas. Ler sobre crenças paranormais ou conspirações causou um “ligeiro aumento na perceção de padrões em lançamentos de moedas, pinturas e vida” e ler sobre uma teoria da conspiração tornou as pessoas mais propensas a acreditar em outra teoria.
“Após uma manipulação da crença numa teoria da conspiração, as pessoas viram eventos no mundo como mais fortemente interligados, o que, por sua vez, desencadeou crenças irracionais não relacionadas”, escrevem os autores.
Os investigadores sugerem que as crenças irracionais nascem da perceção do padrão devido à “tendência automática de dar sentido ao mundo, identificando relações significativas entre estímulos”. Mas as distorções podem acontecer e o cérebro pode ligar pontos que são inexistentes.
As pessoas são más a avaliar o que é aleatório, e muitas vezes não acreditam que os padrões são coincidências, o que leva a ligações irracionais entre estímulos não relacionados. Por exemplo, só porque o poder social é dominado pelos ricos não significa que as pessoas ricas são satanistas Illuminati – algo em que muitas acreditam.
Felizmente, outros cientistas encontraram uma forma de bloquear a omnipresença da perceção de padrões ilusórios: o pensamento crítico.
Anne McLaughlin, professora de psicologia da Universidade Estadual da Carolina do Norte, diz que o pensamento crítico é algo que pode ser ensinado, e que, se as pessoas forem treinadas a seguir o caminho certo, a pseudociência e falsas conspirações podem ser combatidas com a lógica e raciocínio.
Ou seja, o nosso cérebro pode tentar fazer ligações falsas, mas isso não significa que tenhamos mesmo que acreditar nelas.