Em março do ano que se avizinha, fará 91 anos, somando mais um ano numa carreira que celebrou agora as bodas de diamante, mas a idade não parece pesar num dos atores mais consagrados em Portugal. Como tal, Ruy de Carvalho está atualmente cheio de projetos no teatro e em televisão.
“Neste momento estou a fazer o Peter-Pan, no teatro experimental de Cascais, até 24 de dezembro e continuo a gravar o Inspetor Max. No próximo dia 6 vou inaugurar um restaurante na Madeira, que vão colocar o meu nome. Nunca paro”, afirmou, cheio de vigor, numa conversa animada com a Move Notícias.
Mestre na arte de representar, Ruy garante estar satisfeito com o percurso traçado, embora lamente a forma como o público trata atualmente o teatro no nosso país: “Faço um balanço positivo da minha carreira. Mas, hoje em dia, o teatro em Portugal está um bocadinho abandonado pelo público. O público tem que ir mais, tem que gostar mais daquilo que é nosso, daquilo que é feito pelos portugueses. Também fazemos coisas muito boas, não é só lá fora que fazem, lá também fazem muita porcaria, nós se calhar também fazemos, mas fazemos coisas muito boas”.
Apesar de boas recordações profissionais, o protagonista não duvida na resposta quando o questionam sobre o momento mais especial da sua vida. “O nascimento dos meus filhos [João e Paula de Carvalho], sem dúvida nenhuma. E também o meu casamento”, declara, denunciando um brilho de orgulho e também de saudade no olhar.
Passaram dez anos desde que enviuvou, mas Ruy de Carvalho não esquece Ruth, ao lado de quem viveu uma bonita história de amor ao longo de 52 anos de casados. A mulher já não está fisicamente, mas restam-lhe os filhos que não lhe poupam elogios na hora de falar.
Para Paula, “é um orgulho” ter um pai assim. Afinal, “temos sempre orgulho nos nossos pais, acho que isso é importante, quando eles são bons pais, como é o caso. Acima de tudo ele é meu pai, portanto, é isso que eu realço sempre e a sorte de ainda o ter ao pé de mim”.
Amante dos pequenos prazeres da vida, Ruy de Carvalho gosta de socializar, não dispensa uma boa refeição e até dá conta do recado na cozinha. “Aprecio tudo o que seja convívio, tudo em que esteja comodamente instalado, em paz e sossego e comendo coisas bem-feitas. Não bebo, apenas sangria, de resto bebo sempre água. Gosto de cozinhar. O mais difícil de fazer para mim é sopa, não tenho bem certas as medidas da água. Gosto de comer bem. Não muito, mas com qualidade”, conta.
“Sabe que quando se ganha o estatuto de viúvo temos que aprender a desenrascar-nos se não, não comemos”, atira João que ouvia à conversa do pai atentamente, à margem da inauguração de um novo espaço de petiscos em Lisboa.
E, entre amigos, Ruy de Carvalho também confirmou o quanto sociável e o quanto aprecia uma tertúlia e conversas sem fim.