O programa da SIC, que emitiu já dois episódios e gerou 21 queixas dos telespectadores à Comissão de Proteção das Crianças e Jovens e outras tantas reações inflamadas na internet, foi alvo de um debate esta segunda-feira.
Moderado por Conceição Lino, o debate contou com a presença de Júlia Pinheiro (diretora de conteúdos da SIC), Cristina Valente (psicóloga), Dulce Rocha (Instituto de Apoio à Criança) e Rosário Farmhouse (presidente da Comissão de Proteção das Crianças e Jovens).
Segundo Júlia Pinheiro, o canal fez bem em apostar nas relações entre pais e filhos. “Veio, acho eu, detonar… veio interpelar a comunidade no seu todo para o que eu acho que é uma cidadania familiar”, disse.
As quatro estiveram de acordo quanto à importância em falar sobre a parentalidade mas em desacordo contra o formato.
“Nós sentimos que aquelas crianças são expostas a um programa que não beneficia a sua imagem, que invade a sua privacidade e intimidade e que ninguém lá estava a protegê-las”, contou Rosário Farmhouse.
Já Dulce Rocha baseou-se nos resultados, a médio e longo prazo, do programa nos outros países. “Nós temos já seguimento, follow-ups noutros países, muito também com as redes sociais, de que esta exposição às vezes parece inócua e inofensiva. Passado algum tempo as crianças suicidam-se, por exemplo. Têm depressões. Deixam de ir à escola. Portanto nós temos elementos no sentido de que a criança sofre ao ver-se retratada de uma forma negativa”.
Cristina Valente, psicóloga, lembrou que “qualquer desafio, qualquer coisa que corra mal na criança nós temos que intervir e aproveitar essa experiência, seja ela qual for, negativa, porque só assim é que há superação e desenvolvimento da criança. E eu só doto uma criança com ferramentas para enfrentar os desafios se eu pegar numa adversidade e aproveitar isso como uma experiência de aprendizagem”.
Soube-se ainda que os pais foram alertados pela produção do que era a ‘Supernanny’, viram imagens de edições internacionais e houve, de acordo com a SIC, edição muito cuidadosa.
“Há aqui uma intenção puramente social e pedagógica. O nosso único objetivo é dar ferramentas para que os pais possam desempenhar melhor a sua parentalidade. Os pais não são os representantes dos filhos?”, indagou Júlia Pinheiro.
“Sim, mas aqui qualquer pessoa tem a obrigação e o dever de sentir que a criança está em perigo e sinalizá-la. Consideraram que estavam em perigo porque estavam em perigo de exposição, era uma devassa da sua vida privada e íntima, do direito à sua imagem”, respondeu Rosário.
Dulce Rocha sugeriu uma alternativa: “Podia ter sido feito com atores, com base nas histórias reais fazer com atores ou fazer com animação”. Isso foi negado pela diretora de conteúdos do canal de Carnaxide.
“Mas isso não era verdade. Isto é um documentário, isto é um retrato real”, frisou Júlia.
O debate terminou com a certeza que o formato, emitido em 22 países, vai continuar. A SIC considera que a forma como as famílias foram retratadas é correta e manteve a intenção de continuar a emitir o programa.
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