Pela primeira vez na sua carreira a solo (ou pelo menos desde ‘Animal Rights’, de 1996), Moby exerceu a catarse de fazer canções punk ‘inflamadas’ para dar conta do lamentável estado do mundo.
Estamos a falar de ‘Everything Was Beautiful And Nothing Hurt’, último disco do cantor, compositor e produtor norte-americano que tanto deu que falar – e ouvir – com o seu galardoado ‘Play’ (1999).
Aqui há nitidamente um regresso de Moby às suas raízes de orquestra, alma, trip-hop e gospel. Ao contrário dos seus dois últimos álbuns ‘The Systems are Failing’, de 2016, e ‘More Fast Songs About the Apocalypse’, de 2017, que pareciam dirigir a fúria para o 45.º presidente dos Estados Unidos eleito, desta vez Richard Melville Hall (nome verdadeiro) não foi às raízes hardcore buscar inspiração.
Preferiu, isso sim, convidar vários vocalistas – como Raquel Rodriguez, Julie Mintz, Mindy Jones, Apollo Jane e Brie O’Bannon – que, com as suas vozes lentas e espirituosas, fazem-nos recuar no tempo.
Melancólico e exuberante, ‘Everything Was Beautiful And Nothing Hurt’ é também o álbum mais vulnerável que Moby faz em anos.
O nosso destaque recai sobretudo na música ‘Like a Motherless Child’, com um refrão blues espiritual que remonta à era da escravidão americana. Portanto, o sofrimento humano sempre presente no trabalho de Moby.
Passemos agora a outro grande nome da música norte-americana (ainda que nascido na Escócia). David Byrne, lendário fundador dos Talking Heads, quer tudo menos um regresso ao passado.
O primeiro álbum solo de Byrne em 14 anos mostra algo que não é muito usual nos trabalhos de artistas com carreiras longas. Em vez de um disco com velhos hits ou canções novas sem qualquer risco, o músico vem com tudo.
Temas arrojados e até uma tour em vista, que ele anunciou como “o show mais ambicioso que fiz desde os espetáculos que foram filmados para Stop Making Sense” [filme da tour de Talking Heads (1984)].
‘American Utopia’ é otimista e ousado. E ‘Everybody’s Coming to My House’ é o melhor exemplo que podemos retirar deste disco. Trata-se de um jam absoluto e a sátira mais nítida de Byrne sobre o sonho suburbano desde ‘Once in a Lifetime’ (uma das músicas mais aclamadas de Talking Heads).
Há som de guitarras pós-punk, há sonoridade rock e há toda uma vivacidade quando ele a interpreta ao vivo, como aconteceu a 10 de março no ‘The Late Show with Stephen Colbert’. O anfitrião até ajudou ao espetáculo.
“Somos apenas turistas nesta vida/Apenas turistas, mas a vista é boa”, refere a letra. E o artista, de 65 anos, incorporou isso muito bem no seu novo trabalho.
A 23 de fevereiro a Warner Music publicou uma nova edição da lendária antologia Compay Segundo. Trata-se de ‘Nueva Antología | 20 aniversario’.
Além das 34 músicas originalmente publicadas em 1996 (remasterizadas para esta reedição), o álbum contém quatro faixas inéditas – ‘A los barrios de Santiago’, ‘Descripción de un sueño’, ‘Lágrimas negras’ e ‘Versos para ti’ – e um livreto com textos atualizados.
Portanto uma homenagem como deve ser à pessoa que levou a sonoridade de Cuba ao mundo. E que, ainda que tenha deixado este mundo em julho de 2003, continua a marcar o compasso de los Soneros.
O álbum foi produzido por Santiago Auserón, que colaborou ativamente nesta reedição. Auserón também desenvolveu um texto atualizado sob a marca de Compay Segundo, que acompanha a música cubana e os ensaios sobre Compay escritos por Danilo Orozco e Faustino Núñez. Estes ensaios compõem o folheto que acompanha a edição física em formato de CD duplo e edição digital.
‘Chan Chan’ não podia faltar aqui. Aliás o tema, que data de 1997, chegou-nos pela mão de Compay Segundo quando este fazia parte do projeto Buena Vista Social Club e tornou-se numa obra-prima.
Compay Segundo tem agora o seu legado no filho Salvador Repilado, que também era seu baixista, e nos músicos que o acompanhavam. O Grupo Compay Segundo mantém-se fiel às contribuições do Patriarca de los Soneros. E ‘Nueva Antología | 20 aniversario’ é a sua devida homenagem.