A questão de como agir diante do medo é amplamente discutida e polémica. É-nos incutido desde cedo que devemos enfrentar os medos ao invés de os reprimir. Um estudo publicado quinta-feira passada na revista ‘Science’, prova isso mesmo e indica que relembrar situações assustadoras ajuda a superá-las.
A pesquisa foi conduzida por cientistas da Escola Politécnica Federal de Lausana, em França. Segundo a mesma, a ativação dos neurónios ligados a uma memória traumática ajuda a superar o medo. Em 29% dos casos, a recordação de um trauma físico ou psicológico grave não se desvanece e acompanha a pessoa até ao final da vida.
Em casos mais extremos, nomeadamente stress pós-traumático, por norma desenvolvido depois da ocorrência de situações traumatizantes, o trauma pode afetar bastante a vida dessa pessoa. Há pacientes com esse transtorno que têm dificuldades em construir relacionamentos mais íntimos, por exemplo, ou que acabam por desenvolver problemas psicológicos mais profundos.
Tendo como base a análise do funcionamento do comportamento e dos neurónios de ratos, os pesquisadores descobriram que o chamado ‘medo remoto’, ativado mesmo quando se está longe da situação de perigo, derivado de um acontecimento problemático, é mais atenuado quanto mais os neurónios ligados àquele sentimento negativo forem reativados. Assim sendo, quanto mais uma pessoa se habitue a relembrar uma situação que a incomoda e a deixa com medo, menor será essa sensação negativa com o passar do tempo.
Ou seja, oprimir um trauma não é de todo a solução para o ultrapassar. Apesar disso, os cientistas explicam que ainda há questões por explorar, nomeadamente o funcionamento do cérebro e a relação de algumas das suas partes com o processo de memória de uma situação assustadora. Os pesquisadores acreditam que o estudo pode ajudar futuras investigações e influenciar a eficácia dos tratamentos de lembranças traumáticas.
De acordo com a pesquisa, a solução para situações traumáticas é a que serve em tantos outros aspetos da vida. Como diz a gíria popular, trata-se de ‘agarrar o touro pelos cornos’.