A vida notável do vocalista do Queen, Freddie Mercury, tem estado sob os holofotes dos últimos tempos, após o lançamento do filme biográfico Bohemian Rhapsody. E o Dia Mundial da SIDA, que se celebra no dia 1 de dezembro, é um bom momento para refletir sobre a vida do ícone musical e a corajosa batalha contra a doença que o matou.
Elton John recordou os “agonizantes” últimos meses de vida de Freddie Mercury e o seu primeiro Natal sem ele, num excerto do seu livro “Love Is the Cure: On Life, Loss, and the End of AIDS”.
O cantor britânico diz que ficou arrasado depois de saber que o seu amigo, que descreve como uma “luz para o mundo“, tinha contraído o vírus da SIDA.
Apesar da sua personalidade extravagante no palco, Freddie Mercury era um homem intensamente discreto e não anunciou publicamente que tinha VIH (Vírus da Imunodeficiência Humana) até ao dia anterior à sua morte, a 24 de novembro de 1991.
“Mas Freddie disse-me que tinha SIDA logo depois de ter sido diagnosticado em 1987. Fiquei arrasado. Eu tinha visto o que a doença tinha feito a muitos outros amigos meus. Eu sabia exatamente o que a doença iria fazer com Freddie. Como ele sabia que a morte, a morte agonizante, estava a chegar, mas Freddie era incrivelmente corajoso”.
“Ele manteve as aparências, continuou a apresentar-se com os Queen, e continuou sendo a pessoa engraçada, ultrajante e profundamente generosa que sempre foi”, conta.
“Como Freddie se deteriorou no final dos anos 80 e início dos 90, era quase demais para suportar. Partiu o meu coração ver essa luz absoluta no mundo devastado pela SIDA. No final, o seu corpo estava coberto de lesões de sarcoma de Kaposi. Ele estava quase cego, estava fraco demais para ficar de pé”.
“Com todo o direito Freddie deveria ter passado aqueles últimos dias preocupado apenas com o seu próprio conforto. Mas esse não era ele. Generoso como ninguém, ele realmente vivia para os outros. Freddie morreu no dia 24 de novembro de 1991, e semanas após o funeral, eu ainda estava de luto. No dia de Natal, descobri que Freddie me tinha deixado um testamento final do seu altruísmo. Eu estava deprimido quando um amigo chegou inesperadamente à minha porta e me entregou algo enrolado numa fronha. Eu abri e dentro havia uma pintura de um dos meus artistas favoritos, o pintor britânico Henry Scott Tuke. E havia um bilhete de Freddie. Mas antes tenho que explicar que alguns anos atrás Freddie e eu tínhamos criado apelidos um para o outro, o nosso alter-ego drag queen. Eu era Sharon, e ele era Melina. O seu bilhete dizia o seguinte: ‘Querida Sharon, achei que ias gostar disso. Com amor, Melina. Feliz Natal!”
“Eu estava com 44 anos na época, mas chorei como uma criança. Ali estava aquele homem bonito, morrendo de SIDA e, nos seus últimos dias, ele ainda arranjou uma forma de encontrar um lindo presente de Natal para um amigo. Tão triste quanto foi aquele momento, muitas vezes é o que penso quando me lembro de Freddie, porque capta o caráter do homem. Na morte, ele lembrou-me do que o fez tão especial em vida” relata.
“Freddie tocou-me de uma forma como alguém jamais conseguiu, e a sua valente luta particular contra a SIDA é algo que me inspira até hoje. Mas a sua doença, eu tenho vergonha de admitir, não foi suficiente para me incentivar a uma maior ação. Eu já protestei contra os líderes governamentais e religiosos que são indiferentes ou que ativamente minam a luta contra a SIDA. Eles merecem cada pedacinho de crítica que eu vou deixando no meu caminho. Eles poderiam ter feito muito mais”.
A história serve como uma lembrança marcante tanto da natureza amorosa e calorosa do homem, como do terrível sofrimento causado pela SIDA.
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