Perturbação de Stress Pós-Traumático dificulta o relacionamento interpessoal
A Perturbação de Stress Pós-Traumático, mais conhecida pela sua sigla em inglês PTSD (Post Traumatic Stress Disorder), é a designação para uma perturbação mental que parece resultar de uma hiperativação dos mecanismos de resposta ao medo.
Esta manifesta-se, normalmente, no primeiro mês após um evento traumático, mas por vezes pode passar um ano até que isso aconteça. Segundos os estudos, mediante acontecimentos potencialmente traumáticos, é muito frequente encontrar na maioria das pessoas expostas sintomatologia significativa, mas em mais de 90 por cento esta acaba por ser atenuada ao longo das seis semanas seguintes.
Os sintomas da Perturbação de Stress Pós-Traumático agrupam-se em quatro tipos fundamentais: pensamentos intrusivos, evitações, mudanças negativas no conteúdo dos pensamentos e no humor, e mudanças nas reações físicas e emocionais. Estes podem variar com o tempo e de pessoa para pessoa.
Podem, desta forma, surgir pensamentos intrusivos, recorrentes, angustiantes e involuntários sobre o acontecimento traumático, sensação de estar a reviver o acontecimento, muitas vezes com verdadeiros flashbacks, sonhos perturbadores ou pesadelos relacionados com o trauma e sensação de angústia intensa ou reações físicas perante situações que recordem, de alguma forma, o acontecimento traumático. Os sintomas de evitação podem passar por não falar do acontecimento e mesmo “evitar pensar”, evitar lugares, atividades ou pessoas que façam recordar o sucedido. Para além de toda esta sintomatologia, podem surgir pensamentos negativos acerca de si próprio, das outras pessoas e do mundo em geral, bem como desesperança face ao futuro. A memória pode também ser afetada e muitas vezes as pessoas não recordam aspetos importantes sobre o acontecimento traumático.
Estas manifestações tendem a provocar problemas consideráveis na qualidade de vida dos doentes com PTSD, dos quais se destacam: as dificuldades que surgem em manter as relações interpessoais; a sensação de “distância” de familiares e amigos; a descrição de se sentirem “insensíveis emocionalmente”; a dificuldade muitas vezes relatada em sentir “emoções positivas”; ou a falta de interesse pelas atividades que anteriormente eram gratificantes.
Para além de tudo isto, o doente relata muitos sintomas que se relacionam com o estado de hipervigilância, tais como assustar-se facilmente, estar sempre alerta para uma eventual situação de perigo, queixas de dificuldade de concentração, perturbações do sono, irritabilidade, ataques de raiva ou manifestação de comportamentos agressivos e até mesmo conduta autodestrutiva como conduzir em excesso de velocidade e sem cuidado ou beber em excesso. Muitas vezes a todos os sintomas referidos ainda se juntam sentimentos de culpa ou de fraqueza, tornando o dia a dia destes doentes extremamente penoso.
Todos estes sintomas podem ainda variar de intensidade ao longo do tempo, podendo por exemplo ser mais intensos em fases da vida de maior stress e preocupação, ou quando se ouvem determinados barulhos, se assiste a condições meteorológicas adversas ou a notícias sobre a guerra, assaltos, violações e acidentes na televisão. Quadros intensos podem culminar mesmo em ideação suicida, sendo urgente obter ajuda para o doente.
Convém referir que nem todos os casos preenchem os critérios necessários para fazer o diagnóstico de PTSD, não significando por isso que o quadro clínico não afete de igual forma o doente, diminuindo-lhe a qualidade de vida e acarretando dor e sofrimento. Em suma, uma experiência traumática poderá trazer eventuais consequências positivas, tais como a reorganização da vida pessoal, dos seus valores e objetivos.
Para além do sofrimento e da diminuição da qualidade de vida, também o núcleo de familiares e amigos do doente acaba por ser atingido. Por isso, é essencial o reconhecimento e a orientação destes casos para os profissionais de saúde mental. A instituição de medicação psicofarmacológica por psiquiatras e o apoio psicoterapêutico instituídos precocemente poderão mudar o rumo de muitas vidas, melhorando a saúde global e devolvendo sorrisos.
Artigo de Opinião de Sandra Neves, Psiquiatra da UPPC