O Dia Mundial do Cancro assinala-se no dia 4 de fevereiro e, segundo o Núcleo de Estudos de Medicina Paliativa (NEMPAL) da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI), esta doença poderá levar 18 mil portugueses a necessitar de cuidados paliativos. Este núcleo de estudos defende também que os cuidados paliativos introduzidos numa fase mais precoce da doença, a par dos tratamentos dirigidos à cura, melhoram a qualidade de vida e aumentam a sobrevida dos doentes.
“O cancro é das doenças para a qual temos cada vez mais tratamentos e possibilidades de cura. Contudo, com a maior longevidade da população, as doenças oncológicas também têm aumentado. Segundo as recomendações da OMS, calcula-se que cerca de 80 por cento dos doentes com cancro que virão a falecer podem necessitar de cuidados paliativos diferenciados. Assim, de acordo com a mortalidade em Portugal, cerca de 18.000 doentes com cancro podem necessitar, anualmente, destes cuidados. A necessidade de cuidados paliativos na doença oncológica não diminui, pelo contrário, aumenta se quisermos melhorar a qualidade da assistência prestada a estes doentes”, explicou Elga Freire, coordenadora do NEMPAL.
De acordo com os dados da European Association for Palliative Care, em 2013 Portugal estava na cauda dos países da União Europeia, com 5,05 serviços de cuidados paliativos por milhão de habitantes. Elga Freire reconhece que em Portugal ainda falta cobrir grande parte das necessidades de cuidados paliativos, seja internamento ou domicílio. Para a especialista em Medicina Interna, “a resposta deve passar pela mudança dos cuidados prestados aos doentes crónicos e terminais, o que implica, sobretudo, a formação e treino em cuidados paliativos de todos os profissionais de saúde que tratam estes doentes e a criação de estruturas em número suficiente para poder responder às reais necessidades da população portuguesa”.
“É urgente haver um maior empenho das políticas de saúde e sociais para que se implementem as várias estruturas já definidas, nomeadamente os cuidados paliativos domiciliários que vão ao encontro das preferências da população portuguesa, segundo um estudo de Bárbara Gomes para o Cicely Saunders Institute, King’s College London, publicado em 2010”, sublinhou.
A Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos (APCP) calcula que cerca de 90 por cento dos portugueses que precisam de cuidados paliativos não os recebe. A especilista defende que isto acontece porque não há respostas adequadas.
“De acordo com os estudos mais recentes, 60 por cento dos doentes falecidos necessitariam de cuidados paliativos, repartindo-se equitativamente por diferentes níveis de complexidade. No que respeita às diferentes tipologias de unidades/equipas, calcula-se que serão necessárias 133 equipas de cuidados paliativos domiciliários, 102 equipas intra-hospitalares de suporte em cuidados paliativos (uma em cada instituição hospitalar), 28 unidades de internamento em hospitais de agudos e 46 unidades vocacionadas para doentes crónicos. Os recursos atuais ainda estão longe destes números”, concluiu.