A 28 de Janeiro estreou o “24 Horas”, na RTP 2, RTPN e RTPI, e vai todos os dias para o ar à meia-noite, sendo o último noticiário do dia. O formato tem a apresentação e coordenação de João Fernando Ramos, que afirma que o programa colmata uma falha que havia na televisão portuguesa: “Olhamos para o dia que está a terminar de uma forma sintética. Preocupamo-nos em lançar o dia a seguir e falamos com os protagonistas que vão marcar a atualidade”.
Este é um formato bem diferente de um noticiário das oito da noite. “O registo de entrevista é mais solto e permite que as pessoas falem com mais calma, queremos que o jornal tenha um registo mais tranquilo, sem a pressão de um noticiário das oito”, apontou.
Aos poucos o “24 Horas” tem ocupado o seu espaço, conquistando público e marcando a atualidade: “Já acontece ser uma notícia do “24Horas” a abrir o “Jornal da Tarde” no dia seguinte. Temos uma forma muito rápida e muito massificada de dar notícias nos noticiários das oito da noite, depois no cabo entre as 22h 30 e a meia-noite há os comentadores. Mas as pessoas ficam ali perdidas no meio da informação e não sabem em termos práticos o que certas notícias significam e o “24 Horas” veio preencher essa lacuna”.
O objetivo da equipa é fazer um programa sob uma perspetiva diferente a que os espectadores estão habituados. “O jornal é construído todos os dias sob um olhar diferente e tratamos outros temas com atenção, que não estão no topo da atualidade mas que são muito importantes para o país”, explicou João Fernando Ramos.
As polémicas na RTP
O jornalista é um defensor da não privatização da RTP e é com alguma preocupação que olha para as mudanças que estão a acontecer na estação pública de televisão, nomeadamente, na delegação do Porto. “A ida da “Praça da Alegria” para Lisboa foi uma questão polémica, quantos mais programas fizermos no Porto melhor para nós. Acho que teria sido importante fazer um grande programa de entretenimento cá. Por outro lado, estamos, agora, mais direcionados para a dois e acho que pode ser uma excelente oportunidade de afirmação”, sublinhou.
Por outro lado, João Fernando Ramos defende que os profissionais têm que estar disponíveis para novas oportunidades: “O que a RTP Porto tem que perceber é que às vezes temos de mudar de vida. Estava confortável no “Jornal da Tarde”, que é líder no seu segmento, e de repente agarrei este novo desafio. Compreendo que para quem já fazia a “Praça da Alegria” há muito tempo é muito complicado começar a fazer outro formato, mas acredito que estamos aqui para nos afirmarmos. Se nós conseguimos fazer bons programas na 1 e na 2 conseguimos manter o nosso espaço de excelência no Porto”.
As indecisões que a estação pública vive preocupam todos os profissionais, sem exceção. “Estamos a viver um momento dramático e têm sido feitos esforços muito grandes para pôr estas grelhas no ar. O papel da RTP é insubstituível, não o devemos minimizar nem alienar. A RTP é uma instituição que foi criada pelos portugueses, com muitos defeitos e virtudes, mas tem a obrigação de formar os portugueses e dar voz a todos eles. Ninguém acredita que uma empresa privada de comunicação social consiga dar voz aos de Bragança, Algarve ou Coimbra. Não. Apenas vai dar voz onde for mais rentável. Os privados têm uma visão mais centralista e só não é mais porque tem a RTP Porto, que os obriga a dar as notícias de Bragança e de outras cidades”, acrescentou.
O pivot revelou ainda sentir algum estigma por parte das pessoas, em relação ao canal: “Dizem-nos que pagam o nosso salário, mas acho que é injusto porque a média de salários na RTP é muito baixa. Não tenho dúvida que se trabalhasse num privado ganharia mais. Estamos a ter cortes sucessivos e o trabalho sempre a aumentar. Eu próprio entro às 14h e saio à uma e meia da manhã faço-o por gosto e paixão, mas fica muito da nossa vida aqui”.
Texto: Andreia Caturna Martins
Fotos: José Gageiro